segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

NC32


Ônibus vazio, cidade morta. Mente oca, gaiola aberta. Nada há no céu ou na terra que não acabe ao mar.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

NC31

Beleza vende. Feiúra compra. O restante financia toda essa merda.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

NC30

Todos os dias bate o ponto na frente. À noite bate de frente com todos em ponto.

sábado, 12 de dezembro de 2009

NC29


Pode plantar bananeira, árvore e amigos; mas se não regá-los o pescoço quebra e a alma, se existisse, secaria.

sábado, 5 de dezembro de 2009

NC28


Não é fácil ser de esquerda quando os relógios da história insistem em correr para a direita.

NC27

Pela manhã, ovos. À tarde, feijão. No cair da noite antiácido e uma gota de tédio.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

NC26

A porta abriu. Caiu no fosso. Faltou asas e voou. Eleva a dor.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

NC25

A comida chegou fria. O ar quente. A mente aguada. Relevou: nunca foi bom em química.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

NC24


Quando criou a obra não esperava que o aprisionasse. Esperou por séculos a moldura apodrecer; em vão.

domingo, 22 de novembro de 2009

NC23

Olhou para o pai e assumiu:
- Estamos perdidos!
– Até que enfim, meu filho.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

NC22

Drosophifilas melanogaster sobrevoam pesadelos. Detergente há de aliená-las ao menos em sonho.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

NC21


A história, tal vírus, transformada em amnésia contagiosa, beija a pátria desalmada.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

NC20

Para completar a pia entupiu. Jogou ácido. Derreteu o ralo. Saco. Melhor não escrever gordura trans.

NC19

Conquistada a liberdade, não aguentou: Algemou-se ao computador até que as teclas sangrassem e o mouse estrebuchasse.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

NC18


Arrancou os óculos da cara e jogou longe. Não veria mais o mundo filtrado pelo vidro. Livre pelo embaço, acordou nítido.

NC17

Quando abriu o armário o corpo caiu amassado. Manteve o arrependimento, passado com goma e amaciante, pendurado no cabide.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

NC16

Todo dia é aniversário de alguém. Para os que amo é meu também.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

NC15


Não vi quem esqueceu a porta da geladeira aberta. Agora é tarde: Ela já comeu tudo, dormiu nas prateleiras e congelou a dieta.

domingo, 4 de outubro de 2009

NC14

Toda vez que abria a porta o gato fugia levando tanta esperança que era impossível não trancá-lo novamente.

sábado, 26 de setembro de 2009

NC13



Pulando o muro escondido do passado foi pego em flagrante pelo espelho retrovisor da alma.

domingo, 20 de setembro de 2009

NC12

Encontrou as nuvens estateladas no horizonte com os raios de sol transpassando-as até o mar em prantos.

sábado, 12 de setembro de 2009

NC11


Só porque as pimentas estão maduras não lhe dão o direito de abduzi-las para o seu prato.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

NC10


Quase caí da cama quando os gatos alçaram voo levando nos bigodes todos os meus argumentos inéditos.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

NC9

Tragou profundamente engolindo a promessa de vida e morte. No passado, só fumaça; adiante, nada.

domingo, 30 de agosto de 2009

NC8


Girou a chave para a esquerda. Na mão direita a carta sem volta. Lá fora duas caixas, um padrão e o corredor imenso o aguardam.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

NC7

Ao receber a ligação oferecendo um novo cartão de crédito grátis ultra-super-mega, pediu pizza portuguesa light e desligaram na sua cara.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

NC6

Foi muito fácil pular o muro. Difícil foi encontrar o chão enquanto sonhava com asas.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

NC5


Querendo resolver briga antiga enfiou o dedo na campainha encostando a boca escancarada no olho mágico para receber o tiro nos dentes.

NC4

Catou as pipocas estourando no asfalto com garfo para churrasco. Não queria sujar as mãos de manteiga antes de beber o seu último filme.

NC3

Moqueca sem leite-de-coco é peixada com depressão dormindo em panela de barro e com complexo de superioridade tratado com muito urucum.

NC2

Dentro da bolsa de plástico vermelha imensa, objetos inúteis imprescindíveis mantém a sanidade suspensa de quem a carrega.

Nanoconto 1 (NC1)

Conheci um cara que comia pilhas e arrotava luz. Um dia ficou estressado, comeu uma bateria de celular e derreteu os miolos.